A instalação e a adaptação a uma nova realidade

Em boa verdade, ao apresentar-se em São Jacinto, esta magnífica matilha ainda não se apercebera da sua formidável identidade colectiva, naqueles dias éramos um inseguro grupo de mancebos sujeitos a novas regras impostas pela estrutura militar e um desconhecido tipo de praxes aplicadas por uma “elite de senhores alunos pilotos” já instalada há alguns meses na BA 7 – nada mais que o curso anterior, o P2/68, os “Passarões”.

A grande maioria ultrapassara, isoladamente ou em pequenos grupos, por uma terrível prova de acesso ao curso: refiro-me ao dia em que, algures entre Outubro e Dezembro de 1968, munido de uma guia de marcha, cada um se foi apresentar na Secretaria da Base. O olhar aquilino dos “Passarões” do curso anterior P2/68, já em fase de voo, detectou os imberbes mancebos, desde logo apelidados de “infras abaixo de cão” e submetidos a fortíssimas praxes que mais severas pareciam pela desproporção entre o grupo de dezenas de “senhores alunos” e o isolamento do mancebo, que galhardamente aguentou a primeira tempestade do curso, absolutamente inédita para quase todos. Este tema (praxes) será desenvolvido mais detalhadamente num outro capítulo. 

Na verdade, cada um sonhava apenas em ser piloto, a esmagadora maioria nunca se sentara num avião, e o grupo vê-se confrontado com o choque de, pela primeira vez, um curso de pilotagem de milicianos sofrer as agruras de um treino militar cujas componentes física e disciplinar não eram pêra doce!! Apesar de alguns exageros, o grupo, bem enquadrado por alguns rafeiros com experiência militar anterior, adaptou-se bem e teve óptimo comportamento, tal como aguentou estoicamente as praxes, cujas virtudes dependiam quase exclusivamente da competência do praxador…

Instalados numa enorme camarata, bem próxima do pontão das lanchas da Marinha que faziam a ligação a Aveiro, nela conviviam os Passarões e os Viralatas, em duas fiadas de camas duplas em beliche, separadas por armários metálicos, também existentes em fiadas na parte central da camarata. No edifício da camarata, a seguir à porta de entrada, existiam as acasas de banho à esquerda e à direita, uma antecâmara que precedia a porta da comprida camarata, que albergava mais de oitenta alunos pilotos (à época cerca de cinquenta Viralatas e cerca de trinta Passarões), em permanente mudança, com precoces saídas e novas entradas.

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